sábado, 22 de janeiro de 2011

O desastre de Rair.



No livro “Aprenda Xadrez com Garry Kasparov”, minha primeira leitura enxadrística – lá em 2002 – indicada pelo meu grande professor e amigo Laerte Medeiros, há um texto intitulado por “Evitando Desastres na Abertura” (Lição 8, página 39). Bem, o título é bem sugestivo quando se observa a partida jogada pela 4ª rodada do Match XadreZ Seridó 2010, no dia 19 de janeiro, última quarta-feira.
Foram feitos apenas nove, eu disse NOVE, lances e as pretas, conduzidas pelo desafiante Rair Oliveira, levaram mate na posição que segue.

Ilustração pelo Chess Base.

É de se chamar atenção para os graves erros cometidos nesta partida, pois a vergonha não atinge apenas Rair, mas principalmente a mim que fui responsável pela primeira formação desse jogador.

Rair foi convidado a fazer o desafio para o match pelo destaque que teve no ano de 2010. Além da grande realização pessoal de ter passado pelo vestibular do IFRN, tendo ingressado nesta instituição naquele ano quando muitos não conseguiram, o seu xadrez teve uma grande evolução, tendo se consagrado bicampeão individual e por equipes (em 2009 pela EEPEK e em 2010 pelo IFRN) da categoria juvenil dos Jern’s na Regional Caicó-RN; saindo em terceiro lugar nos Jogos Inter-Campi Estaduais do IFRN, resultado que o qualificou para representar o Rio Grande do Norte nos Jogos Inter-Campi da Região Nordeste, torneio este que não participou por problemas da direção daquela instituição; além de outros grandes resultados que obteve.

Portanto, o puchão de orelha é merecido porque não se trata de um iniciante na arte de Caíssa, mas um jogador razoavelmente experiente. Tudo bem que a qualificação técnica dos atletas seridoenses ainda não é digna de grandes elogios, mas também não é pra tanto.

Antes de ter incício a partida, Rair reclamou de dores de cabeças. Fiquei achando que era doce que estava fazendo, mas só uma dor de cabeça mesmo para permitir o que se segue:

1.e4 e5 2.Cf3 d6 3.d4 Bg4? 4.dxe5 Bxf3? 5.Dxf3 dxe5 6.Bc4 Cf6 7.Db3 b6?? 8.Bxf7+ Re7 9.De6#

O lance 2...d6!? é característico da Defesa Philidor do século XVIII muito pouco aconselhada em nossa época. O lance 3...Bg4? crava o cavalo branco e desenvolve uma peça, mas g4 não é a melhor casa para o Bispo preto das casas brancas logo no início da partida, o lance correto é 3... exd4 aconselhado pelos teóricos para ataques ao peão em e5. Já 4...Bxf3? é uma justificativa do lance anterior, mas tira do jogo o precioso Bispo das casas brancas. A destruição final veio, no entanto, com 7...b6?? que protege o peão-b e a Torre em a8 as custas da própria derrota, o mais adequado parece jogar 7...Dc8 que livra a Torre e perde apenas o peão-f, dando espaço para a fuga do Rei para d8.

O lance 7 das pretas foi feito sem atenção, culpa de um olhar preguiçoso e descuidado que não caracteriza o xadrez de Rair que ao contrário é sempre muito atento e concentrado.
Esperamos não vê-lo jogando mais nessas condições.

Fky

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