segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Matemática do Xeque-Mate

Tanto no xadrez como nos negócios e na vida, os três elementos essenciais do mecanismo de tomada de decisões são: material, tempo e qualidade. Aprenda a lidar com essa matemática com um dos maiores enxadristas de todos os tempos.

Como explica o enxadrista Garry Kasparov nesta entrevista exclusiva, tanto no xadrez como na vida, há três elementos essenciais do mecanismo de tomada de decisões: material, tempo e qualidade.

No marco de um tempo e um espaço próprios, todo jogo cria, com suas regras, uma ordem no mundo imperfeito e confuso. Jogo estratégico por excelência, o xadrez é uma confrontação na qual o vencedor demonstra ter “visão” mais apurada do que seu oponente, e os grandes jogadores são capazes de antecipar mentalmente os melhores caminhos possíveis para um desenlace vitorioso. “Num sistema matematicamente finito, pode-se calcular tudo, mas o xadrez é grande demais para isso”, explica Garry Kasparov durante uma entrevista exclusiva concedida em Madri. “Há um grande mal-entendido a respeito da natureza do xadrez”, continua. “Para a matemática, o jogo é finito, mas, para nós, seres humanos, ele é matematicamente infinito. O número de posições, ou seja, a soma de todas as posições possíveis, contém 45 zeros. Acredito que é suficiente para considerá-lo matematicamente infinito.”

Nesta entrevista exclusiva a HSM Management, Kasparov se entusiasma, eleva a voz grave e mexe os braços com gestos amplos. Sua atitude muda quando ouve. A imobilidade é total e a atenção intensa. Capta as perguntas antes que terminem de ser formuladas. Mais do que dono de um temperamento calmo, cultivado nas muitas horas diante do tabuleiro, o chamado “Monstro de Baku” (sua cidade natal, no Azerbaijão) mostra paixão quando fala do xadrez ou se aprofunda nos elementos fundamentais para a tomada de decisões.

Faz tempo que o sr. trabalha numa coleção de livros onde vincula a evolução do xadrez com as idéias científicas e sociais de cada época.

Em certa medida, as mudanças no jogo refletem as mudanças na sociedade. Os novos conceitos estão em consonância com as idéias sociais e culturais predominantes em sua época. Não é casual que o primeiro campeão mundial de xadrez, Wilhelm Steinitz, que introduziu conceitos revolucionários no jogo na segunda metade do século 19, tivesse um pensamento alinhado com a ciência tradicional e que seu sucessor, Emanuel Lasker, contemporâneo de Einstein e de Freud, acreditasse na relatividade e na psicologia. Nos cinco volumes que escrevi, mostro a interconexão entre as novas idéias apresentadas por meus grandes antecessores e sua época.

Como se refletem no xadrez os novos conceitos sociais e culturais? Por exemplo, como as teorias de Freud sobre o inconsciente mudaram o jogo?

A teoria do xadrez tomou forma no tempo da física e da matemática clássicas e foi introduzida pelo primeiro campeão mundial, Steinitz. Nessa época, acreditava-se que uma teoria universal poderia responder a todas as perguntas, e Steinitz promovia essa noção no xadrez. Seu sucessor, Lasker, teve um estilo distinto: em vez de fazer a melhor jogada, fazia a melhor jogada contra aquele adversário. A ênfase não estava na verdade última, mas em jogar contra um rival; o valor de cada movimento era relativo. Lasker introduziu o elemento psicológico. Hoje, para os jovens jogadores, isso é óbvio.

As decisões no xadrez atual são tomadas de forma mais automática?

Jogamos xadrez rápido e, muitas vezes, pela internet. O computador é um componente do preparo. Quando eu era criança, tinha poucos livros a meu alcance, e cada exemplar era um tesouro que eu lia com avidez; era preciso muito esforço para encontrar a informação. Agora, com um clique do mouse acessamos milhões de partidas. Com tanta informação, temos um problema logístico diferente: como diferenciar aquilo que é valioso daquilo que não aporta nada, o falso do autêntico? O que deve ser incorporado e o que deve ser ignorado? Um interessante paradoxo é que antes tínhamos menos informação e mais tempo para decidir, e hoje temos mais informação e menos tempo. De fato, suportamos mais pressão. O grande perigo de nossa época é que muitos dirigentes confiam em que vão encontrar uma resposta e não tomam a iniciativa, não querem assumir o risco de decidir. Mas, no fim do dia, somos nós, e não os computadores, que tomamos as decisões. Se você quer triunfar, deve aprender a não se deixar oprimir pela informação. Eu acredito que muitos ficam sepultados sob o furacão de dados.

Veja a íntegra desta interessante entrevista no site www.sebraemg.com.br.

2 comentários:

  1. Muito bom exemplo!

    Frankly André

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  2. DE TUDO FICAM TRÊS COISAS:
    A CERTEZA DE QUE ESTAMOS SEMPRE COMEÇANDO,
    A CERTEZA DE QUE É PRECISO CONTINUAR
    E A CERTEZA DE QUE PODEMOS SER INTERROMPIDOS ANTES DE TERMINARMOS.
    FAZER DA INTERRUPÇÃO UM CAMINHO NOVO,
    DA QUEDA UM PASSO DE DANÇA, DO MEDO UMA ESCADA,
    DO SONHO UMA PONTE,
    DA PROCURA UM ENCONTRO.
    Fernando Sabino

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